segunda-feira, novembro 02, 2009

Sabatina com Giorgio Armani

Há vários dias que eu estava super afim de publicar aqui no blog uma entrevista que traduzi do site WWD, feita recentemente com ninguém que o estilista itialiano Giorgio Armani.

Dei uma editada aqui e outra ali. Tive que fazer alguns resumos para ajustar o texto (as gírias de moda em inglês estão cada vez mais difíceis de se traduzir), mas ficou prontinho pra vocês e vai a seguir. Nele, Armani (sa-be-tu-do esse cara!) falou da crise que atormenta a indústria da moda, do futuro de sua empresa, da sua rotina profissional e também da dificuldade enfentada com a doença que o abalou e o fez repensar seu modo de vida, enxergando-a de uma meneira mais tranqüila (todo mundo precisa dar uma paradinha, não é mesmo? Até mesmo Giorgio Armani! Rsrsrs)
É isso aí, gentem! Aprendam com o velho e novíssimo Armani. Bom feriado!

ENTREVISTA
Giorgio Armani entra no saguão de sua loja-sede, na Via Borgonuovo, e chama a atenção de todos. Uma prova de que o 'maestro' está de volta com força total. Sua equipe de assistentes, estilistas, hair stylists e maquiadores fazem uma pausa e aguardam suas instruções.
"Podem sair, por favor" - ordena Armani e analisa um modelo de vestido de sua coleção primavera: uma saia de seda com fendas sobre um vestido curto de paetês, listras azul royal, cinza pérola e verde.

O estilista de 75 anos está visivelmente mais saudável do que a figura frágil, que em junho, apresentou sua coleção masculina primavera 2010, e um mês depois de revelar que sofria de hepatite. Na verdade, ele parece enérgico novamente. Em uma entrevista exclusiva ao WWD, Armani está relaxado e à vontade. Ele brinca e filosofa sobre sua vida e os negócios.

"Durante minha doença, percebi o quanto eu preciso de saídas criativas", disse ele, vestindo uma jaqueta preta, camisa, calça e tênis branco.

No entanto, Armani admitiu a redução dos compromissos de sua agenda para cuidar melhor de si mesmo. "A doença me fez entender que você não pode brincar com sua vida", continuou o estilista. "Por anos, eu me ignorei até que recebi esse golpe. Eu percebi, finalmente, que tinha que ser mais cuidadoso. Acumulei stress mental e físico".

Ele também percebeu que deveria aproveitar melhor tudo o que juntou nesses longos anos de carreira. "Durante minha doença passei mais tempo em minha casa, em Broni, e descobri o prazer de estar com meus gatos, cães e amigos", disse Armani. "Antes, eu sempre me senti como um convidado na minha casa".

Mais tarde, sentado atrás de sua mesa em seu escritório, de onde ele comanda seu império de 2,38 bilhões de dólares, ele falou da carreira e do carinho de fãs e amigos em um momento tão conturbado. "Foi incrível", disse Armani, citando recentes férias em seu iate, quando, em uma rara viagem à praia, ele foi recebido por moradores locais.

Armani brincou com alguns traços de sua personalidade e, apesar das especulações sobre o futuro de sua empresa, disse não ter planos para salvá-la da crise. "Eu trabalho menos horas agora. Eu faço uma pausa de uma até três horas durante o expediente e tento sair às 18 horas".

Nesta entrevista, Armani fala de saúde, da próxima coleção a lançar, de negócios e do futuro da indústria da moda. Confira!

WWD: Como um workaholic confesso, foi difícil deixar o trabalho para trás e cuidar da saúde?
Giorgio Armani: Sim, porque sou muito envolvido com todos os setores da empresa. Se não for possível delegar todas as tarefas, pelo menos controlo todas. Acompanho tudo na empresa, desde a escolha de uma lâmpada, a preparação de uma coleção, até a seleção de um local para desfile, entre outras coisas.
Nesse tempo também descobri que os valores sentimentais devem ser valorizados. É importante para não voltar a ser agressivo e desagradável, uma vez que a doença não existe mais.

WWD: O problema de saúde levou você a refletir sobre a gestão de sua empresa?
GA: Com certeza foi uma ocasião para pensar [no futuro], mas a minha prioridade era ficar curado. Então, tentei evitar pensamentos negativos sobre mim, como a compilação de um testamento. Obviamente, eu o fiz há um tempo atrás, e talvez seja a hora de revê-lo. Passei os dias tomando remédios, repousando, me alimentando bem e à espera de minha irmã trazendo uma deliciosa sobremesa de presente. Você se torna um pouco infantil, um aspecto que contrasta fortemente com a minha atitude, que é sempre um pouco ditatorial.

WWD: Você mudou sua abordagem de design levando em conta a crise econômica e as tendências atuais?
GA: Não, não. Aprendi ao longo dos anos que um designer que reage a qualquer variação, cultural e às tendências da moda pode facilmente sair dos trilhos. O fulcro da Armani sempre foi a busca de uma estética coerente e rigorosa. Os constantes são a qualidade, elegância, excelência estilística e inovação.
Durante meus 30 anos na moda, eu explorei muitas estradas diferentes, desde o minimalismo à minorias étnicas, mas na maioria das vezes, as pessoas esperam o mesmo estilo de mim e não entendem a mudança. Esse é meu desafio.

WWD: Você tem humor para novas experimentações ou prefere o classicismo?
GA: Ambos. Meu estilo é respeitar o passado, mas me projetar para o futuro.

WWD: Em termos de moda, que tipos de estilos será o mais desejável no período pós-recessão? Você espera qualquer mudança importante?
GA: Eu acho que haverá certamente uma onda de modelos simples, minimalista e atemporal. Então, como sempre acontece na moda, quando a economia voltar a crescer vamos ver um retorno ao glamour.

WWD: Há homens em particular ou mulheres, famosas ou não, nos quais você encontra inspiração e por quê?

GA: Eu sou um fã de cinema, razão pela qual sempre admirei o trabalho de atores e atrizes que são considerados estrelas da época dourada de Hollywood. Gente como George Clooney, Cate Blanchett e Isabelle Huppert, esta última eu vesti este ano no Festival de Cannes por seu papel como presidente do júri.

WWD: Quando a poeira da recessão assentar, você acha que a indústria da moda será alterada?
GA: Eu acho que as pessoas estão sofrendo uma mudança cultural. A recessão está fazendo todo mundo mais cuidadoso ao escolher como gastar seu dinheiro. No entanto, acredito que as pessoas são fundamentalmente movidas por aspirações. Sempre existirá o desejo pelas coisas que gostam.

WWD: A crise tem sido difícil para muitas empresas italianas. Você se preocupa com o futuro da indústria da moda na Itália? Por quê?
GA: Eu acredito que a recessão nos levou a nos concentrar naquilo de melhor que fazemos e na maneira pela qual o fazemos. De qualquer forma, creio que há uma estética italiana, que é original e atraente, e uma qualidade indiscutível e credibilidade associadas à idéia do ‘Made in Italy’. No ano passado, estas características mudaram, destacaram-se e vão trabalhar a nosso favor, quando a economia saltar de vez.

WWD: Na sua opinião, como é que o Grupo Armani resistiu à economia existente e quais as estratégias que você realizou para que isso ocorresse?
GA: Eu acho que nós temos trabalhado muito bem, melhor do que muitos outros, principalmente porque a minha estética é destinada a uma eterna elegância e sofisticação, e não influenciada por tendências efêmeras. Por esta razão, minha roupa foi sempre considerada como algo que não sai de moda rapidamente, em outras palavras, é um bom investimento.

WWD: Há aspectos do negócio que se mostraram mais vulneráveis e podem, portanto, levar mais tempo para se recuperar?
GA: Não é nenhuma surpresa que as áreas que têm nos ajudado a suportar melhor a crise são aquelas menos onerosas, como perfumes, jeans, produtos de beleza, roupas infantis, Armani Exchange. Enquanto isso, as áreas que foram mais fortemente afetadas pela gravidade da recessão são os artigos de luxo que têm preços muito elevados. Mas não é assim tão simples. Armani Privé, minha coleção de moda de alta costura, ainda tem muitos fãs e o segmento de alfaiataria vai muito bem, obrigado. Eu acho que quando se trata de itens caros, talvez as pessoas estejam olhando para a individualidade mais do que nunca.

WWD: Você mudou sua política de preços de alguma forma?
GA: Um dos nossos pontos fortes reside no fato de que temos à nossa disposição um portfólio de linhas e produtos que abordam uma vasta gama de consumidores. Mais do que redução de preços, eu diria que estamos mais atentos.

WWD: Qual é a sua perspectiva de negócios para o saldo deste ano e no próximo ano?
GA: Como sempre, quero me dedicar a novas idéias e áreas estilísticas. Eu gosto de esforçar minha equipe até o limite. Nosso objetivo será o de sair da crise ainda mais rápido e construir a nossa marca em novas áreas e mercados.

WWD: Na sua opinião, qual será a evolução da indústria nos próximos anos. A China e outros mercados emergentes? A revolução da Internet e de redes sociais? O rolo compressor do fast-fashion?
GA: Todos estes aspectos terão repercussão, mas a única coisa de que podemos estar certos é que eles não irão influenciar o setor da forma que imaginamos agora. Não vamos esquecer: a televisão não matou o cinema, nem pôs um fim ao rádio. O êxodo em massa que se previa há alguns anos, quando era suposto que tudo seria feito na China, não foi materializado de forma clara. O fato é que a China e os chineses representam um mercado fabuloso e fascinante que nos está dando e vai continuar a dar-nos muita satisfação. A indústria irá se adaptar e evoluir, como sempre tem feito. Agora somos capazes de compreender que o comércio eletrônico é uma força real na moda. Mas se a rede social vai ajudar a vender a roupa é outra questão.
Tanto quanto o ritmo da moda continua a acelerar, sempre haverá um consumidor que quer autenticidade e um produto feito para durar.

WWD: Andrea Camerana, seu sobrinho, tem sido apontado como um possível candidato à frente da empresa. Há alguma verdade ou boato nisso?
GA: Andrea é uma pessoa encantadora. No momento, ele me serve como alguém com uma visão mais calma dos problemas. Ele não é tão envolvido quanto eu sou. Estou com a empresa até o pescoço, de manhã até a noite, razão pela qual ele é capaz de ver as coisas e sugerir soluções que sejam menos drásticas. Eu sou um bocado impulsivo na minha maneira de fazer as coisas, nem tendo tempo para mim nem para os outros. Andrea continua ao meu lado porque é meu sobrinho e eu o adoro. Quem sabe um dia ele possa ter uma grande oportunidade na empresa. No entanto, no momento, prefiro mantê-lo onde ele está, sem dar-lhe mais responsabilidades. Seu papel oficial é como meu sobrinho, que é mais que suficiente para muitos.

Fonte: Site de moda WWD
Fotos: Dave Yode

4 comentários:

Antonio Barros disse...

Muito bacana a entrevista!

Adorei o blog!

thesingular.blogspot.com

Jumara Cardoso disse...

Grata Antônio! Faça-nos sempre uma visitinha. Bjs.

Soninha disse...

Estou fazendo meu tcc, uma suite inspirado em Giorgio Armani. e Foi de grande valia essas informações.
Obrigada

Jumara Cardoso disse...

Obrigada pela visita, Soninha! Nosso objetivo é esse mesmo: informar! bjs

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